Concurso público - edital pra vida

Concurso público: edital pra vida Concurso público, algo quase sempre almejado como meta de carreira: conseguir um emprego que não seja exaustivo, bem remunerado e com estabilidade. Mas será que o cargo público é tudo isso mesmo? Será o Santo Graal? Como atual funcionário público e alguém que já trabalhou na iniciativa privada por alguns anos, além de ser concurseiro, e já ter prestado um número rasoável de concursos, gostaria de registrar minha opinião, começando pela afirmação: Cargo público é opção de carreira, NÃO É LOTERIA

Vamos começar analizando o principal mecanismo de entrada no funcionalismo público: o concurso público. As outras portas de entrada são através de cargos eletivos como prefeitos, presidentes, vereadores, etc - se você cogita esse tipo de cargo, este post não é pra você, e talvez este blog também não seja - além dos cargos de confiança, que como o próprio nome diz, são destinados a auxiliar algum cargo eletivo, ou trabalhar em um cargo de chefia, nesse caso, a pessoa é indicada e assume o cargo diretamente, sem precisar de concurso público. Isso acontece apenas para cargos que tem essa característica expressa, não é possível alocar um funcionário que possui um cargo de confiança em uma vaga de um cargo destinado a um concursado.

Dito isto, você precisa fazer uma pergunta séria antes de se aventurar pelo mundo dos concursos públicos: você está disposto à pagar o preço para ocupar o cargo desejado? E qual seria esse preço você me pergunta, e a resposta é: tempo e dedicação. Você com certeza já deve ter ouvido a famosa estória de “um primo de um amigo que morava em frente à casa do padeiro” nunca estudou, nunca se dedicou e passou “de primeira” no concurso de X (aqui você coloca prefeitura, Correios, Banco do Brasil, etc). Além da famosa frase que eu “adoro” ouvir que é: “Só passa quem tem amigos lá dentro”. ….. Eu gostaria que você pensasse com muita atenção sobre os dois casos, porque com certeza, a maioria das pessoas que já aventou a possibilidade de tentar um concurso público já ouviu. Vamos pensar um pouco:

Quanto à primeira afirmação: você já reparou que na maioria das vezes, a pessoa que passou é um parente distaaaaaaaante, ou um conhecido de um conhecido de um conhecido de um parente distaaaaaaaante. Ou seja, fazem parte da famigerada sociedade secreta iluminati: “A sociedade secreta dos amigos do meu primo”. Ou seja, na maioria das vezes ou é lorota, ou no máximo, foi em um concurso obscuro de um micro município. Pode até existir um gênio/sortudo que passou em um concurso mediano, mas na grande maioria, não é isso que acontece.

O outro ditado: “só passa quem tem amigos/padrinhos dentro do sistema”. Hunnn… Bom, meu grau de inocência e meu nível de cara de pau não são tão grandes para que eu diga: “Não! Isso não acontece!”. Muito possivelmente isso aconteça em uma prova ou outra. Porém cada vez mais, e atualmente podemos dizer que em quase todos os casos, a empresa organizadora da prova é totalmente autônoma, não possuindo qualquer laço econômico ou de interesses com o órgão que solicita o concurso. Dessa forma, é de se esperar que a empresa organizadora preze por sua reputação, caso contrário, cai em discrédito.

E mesmo que o acaso ou as falcatruas estejam presentes em concursos de nível básico ou intermediário, é muito pouco provável que estes eventos aconteçam em concursos de alto nível, como os concursos federais.

Então o que sobra? Sobra o caminho mais difícil, porém, o caminho correto a se seguir: a dedicação ao estudo. E neste caso, temos uma dura constatação à frente: a dificuldade do concurso em si. Em sua grande maioria, concursos públicos tem uma quantidade de material muito extensa e não apresentam guias bibliográficos, ou seja, o candidato deve pesquisar por si próprio o material fonte, o que gera grandes dúvidas. Além disso, algo que não é muito falado, é que, mesmo sendo a aprovação requisito básico para concorrer a uma vaga, essa conquista pode não ser o suficiente: passar é obrigatório, mas o que tras a vaga é a classificação. Mesmo que você passe em um concurso; se este concurso por exemplo oferece10 vagas, e você tenha se classicado em 100º, muito provalmente não vai ser chamado. As entidades que solicitam o concurso só tem obrigação legal de convocar o número de vagas que deixa explícito no edital, o resto, fica em uma fila para caso eles precisem durante o prazo que o concurso fica ativo (na maioria das vezes dois anos, prorrogados por mais dois). E dessa forma você pode acabar ficando em uma angustiante fila de espera por anos e que pode não levar a nada… Some a este fato, o quadro de desemprego no Brasil e temos uma concorrência que é cada vez mais acirrada e bancas de avaliação tornando as provas cada vez mais complexas. A demora é um elemento presente em vários aspectos: os concursos demoram a serem lançados e a espera para a convocação caso você seja aprovado pode demorar ANOS, mesmo para quem conseguiu uma boa classificação.

Além disso, depois que você é convocado, e entra em atividade, pode se frustrar com alguns aspectos do funcionalismo público: as atividades são mais burocráticas, coisas como: reformas nas instalações do ambiente de serviço, solicitação de material de trabalho, (canetas, lápis, etc) são bem mais lentas do que na iniciativa privada pois é preciso prestar contas de tudo o que acontece sob o risco de incorrer em penalidades administrativas, civis e até penais (ir pra cadeia). O crescimento dos vencimentos também pode ser um fator de frustração para o que eu chamo de: ‘escaladores de comissões’, aquele tipo de profissional (muitas vezes um vendedor) que faz de tudo para bater as metas com olho no bônus e no aumento. Funcionário público não tem esse tipo de aumento diferenciado, os vencimentos são reajustados de acordo com o cargo e a atividade (alguns cargos recebem bônus de produtividade, mas isso é um fato relativamente novo).

É claro que com certeza existem pontos muito bons, como a estabilidade, e na maioria das vezes um salário mais alto do que o oferecido na maior faixa do mercado, mas talvez o maior indicativo para você se dedicar ao serviço público é o mesmo da iniciativa privada: faça algo que você goste. Você vai ficar aproximadamente um terço da sua vida realizando essa atividade. Podemos conseguir o sustento financeiro de várias formas, porém o tempo, é limitado, não há como conseguir mais… É como você viajar em um carro de luxo para um lugar que você odeia, vai ser uma viagem agradável, mas não vai te fazer feliz.

Então, a mensagem que eu gostaria de deixar para você caro leitor, é que reflita primeiro se é isso que você quer da sua vida, por que não é fácil. Cargo público não é loteria, é opção de carreira.

Escrito em May 31, 2019